Análise: Imprensa internacional destaca dilema da esquerda brasileira sobre o futuro ‘pós-Lula’

O recente histórico de saúde do presidente Lula tem levantado discussões importantes a respeito da sucessão no PT em 2030. Em um artigo intitulado “Esquerda brasileira se vê obrigada a considerar futuro pós-Lula”, o jornal britânico Financial Times traça paralelos entre a situação do presidente brasileiro e a de líderes como Joe Biden e Donald Trump, destacando as questões relacionadas à idade e saúde desses políticos.
Lula, com 79 anos, tem enfrentado especulações sobre sua candidatura à reeleição, embora tenha afirmado que tomará sua decisão mais próximo do pleito. Aliados do presidente, no entanto, acreditam que ele buscará um segundo mandato. Gleisi Hoffmann, presidente do PT, afirmou que dentro do partido não há plano B, reforçando a confiança na candidatura de Lula.
De acordo com o Financial Times, dois ministros do governo, Fernando Haddad, da Fazenda, e Camilo Santana, da Educação, são frequentemente apontados como possíveis sucessores. No entanto, parte da alta cúpula do partido permanece cética quanto à viabilidade de um candidato que não seja Lula, refletindo o enfraquecimento da esquerda brasileira, agravado pela crise econômica e polêmicas de corrupção que marcaram o último governo petista.
A especulação sobre o estado de saúde de Lula surge em um momento delicado para o governo, em meio à crescente preocupação de investidores com as finanças públicas e com a inflação. A recente tentativa de redução do déficit primário pelo ministro Haddad, que é visto como favorito para suceder Lula, desagradou muitos setores mais à esquerda do PT, que resistem à adoção de medidas de austeridade fiscal.
Eduardo Grin, professor de Ciência Política da Fundação Getúlio Vargas, comentou que as comparações entre Lula e Joe Biden são exageradas, e que grande parte das especulações sobre a saúde do presidente é alimentada pelo mercado financeiro, que se opõe às suas políticas econômicas.
Lula recebeu alta hospitalar no último domingo (15), após ter sido internado de emergência na terça-feira anterior, quando passou por uma cirurgia para tratar uma hemorragia no crânio, decorrente de um acidente doméstico sofrido em outubro. Na quinta-feira (12), o presidente também passou por um procedimento para reduzir o fluxo de sangue para a meninge, a camada que envolve o cérebro.
Em setembro deste ano, o presidente Lula passou por uma cirurgia de artroplastia do quadril, com colocação de prótese, no Hospital Sírio-Libanês, em Brasília. O procedimento impactou a agenda presidencial, exigindo alguns dias de recuperação.
Em entrevista à TV Globo no domingo, Lula afirmou que retornará ao trabalho em breve e que o governo está correndo contra o tempo para aprovar projetos importantes, como as reformas tributárias, antes do recesso parlamentar que começa na próxima semana. O presidente também se defendeu das críticas à política fiscal do governo. “Ninguém nesse país, do mercado, tem mais responsabilidade fiscal do que eu”, disse.
Lula destacou que entregou o país em uma situação favorável e reiterou seu compromisso em evitar gastos excessivos, alertando que, se o governo não controlar os gastos, a conta será paga pelos mais pobres.
Além disso, o presidente criticou a taxa de juros elevada no Brasil, que, segundo ele, é um dos maiores problemas econômicos do país: “A única coisa errada nesse país é a taxa de juros estar acima de 12%.”