ANÁLISE: uma reflexão sobre fim de ano, família e o baile das máscaras

Hoje, falaremos de família; ou do que restou dela(s). A peça está em cartaz, mas quem se atreve a levantar o pano e olhar além do brilho das luzes?
Do prólogo ao epílogo, eis que chegamos a dezembro. As luzes piscando nas vitrines, o Natal se aproximando com seu frenesi de presentes e promessas, e, claro, o inevitável arroz com uvas-passas. Ah, esse prato controverso… mas deixemos essa discussão para outra ocasião. Hoje, o que nos interessa não são os detalhes culinários, mas os bastidores da vida que, muitas vezes, se revelam mais complexos e reveladores do que qualquer festa de fim de ano.
Nos fins de ano, mensagens no WhatsApp repletas de votos de felicidade são sombreadas por um sorriso forçado que esconde a tensão interna de muitos casais. Não todos. Felizmente. A virada de ano é momento de celebração e reflexão, mas também tem o poder de forçar uma revisão de contas emocionais que, em alguns casos, resultam em separações.
Em 2023, o Brasil registrou um divórcio para cada dois casamentos. Dados do IBGE revelam que, em 2022, o número de divórcios no Brasil cresceu 8,6% em relação a 2021, totalizando 420 mil casos. E o mês de dezembro se destaca com números ainda mais expressivos.
O Colégio Notarial do Brasil aponta um aumento de 15% nas separações formalizadas em comparação à média anual, o que coincide com o momento em que muitas pessoas se deparam com a necessidade de mudanças enquanto fazem seus balanços de vida.
Mas o que acontece por trás dessa estatística? É o momento em que, muitas vezes, o casal se vê diante de uma realidade desconfortável. A família, que antes era o principal pilar de sustentação, começa a se desintegrar sob a pressão da rotina, da incompreensão e, por vezes, como se o casamento fosse apenas uma aparência, um símbolo que se mostra mais para os outros do que uma verdadeira aliança entre os parceiros.
A busca incessante pela perfeição nas redes sociais tem um papel destruidor nesse cenário. Casais parecem estar obrigados a mostrar, em cada foto, cada gesto, a “vida ideal” que todos esperam ver.
Essa busca por uma fachada impecável frequentemente mascara as fragilidades do relacionamento, criando uma pressão invisível, mas implacável. Afinal, como manter a aparência quando as expectativas são alimentadas por um modelo de felicidade irreconhecível no cotidiano? A “vida perfeita” das redes sociais não conta os dias de silêncio, as discussões não resolvidas, as inseguranças acumuladas.
No fim, a separação não é o ponto final, mas talvez o começo de um novo entendimento sobre o que é realmente importante. A paciência para lidar com as imperfeições, a coragem de enfrentar os próprios traumas e a capacidade de buscar o entendimento por meio da comunicação. É isso que permite que se reconstrua relações profícuas, dentro do casamento ou fora dele.
E quando o último ato chegar, o que restará no palco? Será que o enredo que encenamos foi realmente vivido ou apenas uma sombra projetada pelas expectativas alheias? Seremos, de fato, autores de nossas histórias ou simples figurantes, esperando que o pano caia para finalmente entender o que não soubemos? Boas festas!